A primeira usina de biogás do Interior de São Paulo funciona desde ontem em Guatapará (117 quilômetros de Bauru) região de Ribeirão Preto, a partir do gás metano captado do aterro sanitário do Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR). O JC acompanhou. Ali, são depositadas 2.400 toneladas de lixo domésticos por dia provenientes de 20 municípios, e convertido em energia elétrica.
A instalação da unidade termelétrica resulta da parceria da Estre Energia Renovável com a empresa portuguesa ENC Energy que fornece a energia à Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) em Pradópolis. O empreendimento recebeu investimento de R$ 15 milhões, mas o grupo planeja destinar um total de R$ 300 milhões na instalação de usinas semelhantes nos 10 dos principais aterros da empresa até 2017. A companhia estima receita de R$ 200 milhões por ano quando operar todas as usinas.
A região de Bauru vai ganhar uma dessas unidades até 2015 em Piratininga, segundo o diretor do Interior e da Região Centro Oeste da Estre Energia Renovável, Mauro Picinato. (leia texto nesta página).
Em Guatapará, a capacidade instalada é 4,2 megawtts (potencial mensal de 3.000 MWh e suficiente para abastecer uma cidade de 15 mil habitantes), mas deve chegar a 10 megawatts até o final deste ano com a instalação de mais de dois geradores dobrando esse potencial.
O plano da companhia é produzir 100 MW com os CGRs em operação nos próximos quatro anos.
O sistema é semelhante a termelétrica. O combustível que movimenta os geradores é o gás metano retirado por meio de tubulação do aterro sanitário, gerado da decomposição dos detritos, com alto valor calorífico suficiente para gerar energia nos motores, produzidos na Áustria. Pelo menos 80% da produção já está vendida nos próximos três anos no mercado futuro de energia a uma indústria alimentícia. Os outros 20% abastecem o sistema elétrico, de acordo com Picinato.
Preço em conta
A energia gerada pelo biogás tem um custo de R$ 140 a R$ 150 por kWh contra os R$ 800 a R$ 900 em média produzido pelas termelétrica movidas a óleo diesel e carvão, bem mais poluentes. “A vantagem do biogás é uma energia limpa e mais barata”, afirma o gerente de Novos Negócios da Estre, Alexandre Alvim. O custo da energia gerada por hidrelétrica é de R$ 60 por kWh, mas n o período de estiagem a demanda dessa matriz energética diminuiu, enquanto a biomassa é possível produzir o ano inteiro, com exceção no período de manutenção dos motores.
A Estre já atende há várias cidades da região de Ribeirão Preto e Bauru no recebimento dos resíduos sólidos no aterro de Guatapará.
Com a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos está proibido manter aterro sanitário sem obedecer as normas técnicas ambientais.
Antes de entrar na geração de energia, a companhia também estudou a possibilidade de converter o resíduo em gás veicular ou em gás de cozinha. “Chegamos à conclusão que a energia seria a melhor opção, principalmente ao levarmos em consideração que, por conta de mudanças climáticas e do aumento do consumo da população, o preço dessa mercadoria no mercado spot tem crescido muito. Só no ano passado, o crescimento foi de 74%”, disse Alvim ao JC durante a inauguração da unidade em Guatapará.
Suspensão do ICMS na importação de máquinas
O empreendimento contou com ajuda da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade que fornece, gratuitamente, informações estratégicas que ajudam os investimentos a encontrar os melhores locais para seus negócios, prestando assessoria ambiental, tributária e de infraestrutura.
A agência ajudou também a obter a suspensão de ICMS na importação das máquinas que fazem a conversão do gás em energia fornecida pela General Eletric, o que diminuiu o custo em 12%, segundo Alexandre Alvim.
Os geradores são produzidos na Áustria. O sistema utiliza equipamentos para fazer a filtragem do gás metano extraído exatamente dos aterros.
Convém ressaltar que, com capacidade de operação nos próximos 25 anos, o aterro de Gatapará já opera há sete anos e teve sua vida útil reduzida para 20 anos por aumento da demanda de 1.500 toneladas para 2.400 toneladas de resíduos destinados ao aterro.
“O segredo é o manejo de todo esses detritos para mantê-los debaixo da terra, o que gera a decomposição e a produção do metano”, explica Picinato.
‘Restante’
De uma área de um milhão de metros quadrados onde estão as valas do CGR na zona rural do município de Guatapará pelo menos 400 mil metros quadrados são só para o aterro sanitário e o restante reservados para Área de Preservação Permanente (APP), reflorestamento e área de reserva legal.