Pelé, “Obrigado por ter existido”... O Brasil torce por você!

EsporteDestaque
Jornal O Avaré 07/12/2022 09:10:00

Neste País, a corrupção é endêmica, além de epidêmica e vem lá de trás, desde o Descobrimento. Seu núcleo maior se encontra, hoje, no estamento político, mas não só aí. Corrupção de todas as formas, não apenas apropriação e desvio do dinheiro público, como se viu há poucos anos nos escândalos do Mensalão, Petrolão e outros, que se associaram historicamente a Lula e sua gente, dentro e fora do Governo e do Parlamento.

Há uma íntima correlação entre a corrupção no estamento político e a corrupção de costumes da população, com o afrouxamento dos princípios éticos e morais descendo ao dia-a-dia. Corrupção, consideradas todas as formas e graus é uma doença social altamente contagiante.

Portanto é muito estimulante ver-se pessoas ainda íntegras (e são muitas!) neste oceano de apatia moral em que se transformou o Brasil. Apatia a ponto de eleger-se para a presidência da República um condenado por corrupção, em dois processos-crime, em todas as instâncias judiciais competentes.

Como consequência disso, nos próximos quatro anos, os brasileiros alérgicos à corrupção (inclusive nossas crianças) terão que encarar o retrato do maior ladrão da História Política das democracias ocidentais conspurcando as repartições pública federais. Terão que assistir ao espetáculo degradante de Lula subindo a rampa diariamente, sob o toque do Hino Nacional. Terão de engolir a injúria de ver nossos generais batendo continência, durante solenidades cívicas, a um corrupto, ex-presidiário, ‘descondenado’ por um malabarismo torpe, supostamente jurídico, mas claramente ilegal perpetrado por aquilo que deveria ser apenas uma Corte Constitucional de Justiça.

Mas (perdão!), não era nada disso o que eu queria falar. Eu queria falar de uma pessoa totalmente oposta a este quadro de miséria moral. Eu queria falar apenas de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, hoje infelizmente internado em um hospital, em luta para salvar sua vida exemplar.

Pelé não deve ser lembrado apenas como o maior, o mais brilhante, o mais celebrado jogador de futebol da História. Eu, como parco conhecedor do jogo, mas admirador da sua beleza plástica, vou além das prodigiosas qualidades futebolísticas de Pelé: quero exaltar suas virtudes de ser humano.

Homem ético e de princípios, Pelé nunca aceitou contratos para propaganda de produtos alcoólicos. Deve ter perdido milhões de dólares em defesa dos princípios em que acreditava. A ética e os princípios em que acreditava sempre foram a bússola maior de sua grande vida. Um colega meu, da UFSC, certa vez escreveu:

“Dentro deste raríssimo conjunto, brilha o nome de um cidadão que segue vivo, cuja sonoridade é mais conhecida que ‘papa’ ou qualquer outro líder da humanidade do passado ou do presente: Pelé.”

Verdade: Pelé foi o maior embaixador do Brasil em todos os tempos.

Sou, então, compelido a contar uma pequena história.

Estava eu em Berlim, nos anos setenta, na época em que a União Soviética ainda existia, quando resolvi visitar, com minha mulher, a DDR, a cinicamente chamada ‘Deutsches Demokratische Republik’ (República Democrática Alemã), aquele pedaço mais duro e mais stalinista do Leste Europeu.

Meu ônibus, partido da Berlim ocidental, teve de parar no ‘Checkpoint Charlie’, pois vivíamos em plena Guerra Fria. Naquele ponto, o motorista foi trocado, bem como o guia turístico. Ambos de confiança dos ditadores da DDR, claro. Enquanto parado, pude verificar, na pista ao lado, a checagem de um ou outro automóvel que saia da DDR: tudo era escrutinado, até o fundo do carro, através de espelhos. O objetivo era verificar se alguém se atrevia a abandonar aquele ‘paraíso’ comunista, a DDR.

Foi uma parada tensa. Um dos passageiros, americano, teve seu passaporte levado à cabine de controle, voltou com um oficial de patente mais elevada, voltou ao controle, retornou com outro oficial de patente mais alta ainda, até que foi devolvido ao passageiro. Houve outros incidentes menores, que somaram à tensão já existente.

Até que chegou a minha vez. Entreguei meu passaporte com o de minha mulher; o oficial o examinou, abriu-se em um amplo sorriso e gritou, alto e bom som: “Ah, brasilianer! Pelé!”. Devolveu-me os passaportes sorrindo, com um emocionado “dankeschön.”

Eu que sempre admirei Pelé, tanto como artista da bola como ser humano, senti, naquele momento, a extensão da admiração universal e respeito por sua figura. Por isso, tinha de contar esta história.

Obrigado, Pelé, por ter existido.

Fonte: Jornal da Cidade Online

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