Pacientes da região não conseguem fazer cateterismo na rede pública


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Jornal O Avaré 08/11/2016 00:05:29

Pacientes que sofreram infarto este ano e precisam fazer cateterismo, exame usado para verificar e desobstruir vasos sanguíneos, afirmam que não têm onde realizar o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na região de Itapetininga (SP). O exame era feito apenas no Hospital Santa Lucinda, em Sorocaba (SP), e foi suspenso em outubro deste ano após a unidade deixar de atender especialidades pela rede pública. Para eles, que são moradores de Tatuí e Itapetininga, a falta do procedimento gera preocupação e medo de que um novo infarto aconteça.
 
 
O Hospital Santa Lucinda, que é privado e faz parcerias com o poder público, afirmou que os repasses do governo estadual estão em dia, mas o dinheiro da União, que é encaminhado para o município e depois para o hospital, não é repassado há quatro meses. A dívida chega a R$ 10 milhões, diz a entidade. A Prefeitura de Sorocaba reconhece as pendências, alega que a falta de repasse deve-se à queda de arrecadação de tributos e aumento da demanda. Mas espera uma solução até o fim deste mês.
 
 
Enquanto a falta de dinheiro faz parar o serviço, o lavrador Darcy Generoso sente na pele o medo de sofrer novamente um infarto. Segundo Darcy, ele enfartou no início deste mês e precisou colocar um marca-passo provisório. O certo, agora, seria trocar por um definitivo, mas sem o cateterismo não tem como fazer nada. “Eu estou sabendo que tem 25 nas mesmas condições minhas. Eu ainda tenho esse marca-passo, enquanto os outros, coitados, não têm. A gente é lavrador, vive de ‘salarinho’, não tem condições”, afirma.
 
 
 
 
O aposentado Geraldo Provasi vive na mesma situação. Segundo ele, depois do ataque cardíaco em outubro, ficou 20 dias internado no Hospital Regional em Itapetininga e teve alta antes de fazer o exame. “Agora, a gente fica pensando que não vai fazer e tem hora que quer dar algo, porque fico nervoso e a gente não pode ficar. Não sei como vamos fazer. Pagar não tem condição. Tem que ser pelo SUS mesmo”, diz.
 
 
O mesmo acontece com o amigo dele e também sobrevivente a infarto recente, o aposentado Miguel Rodrigues Toledo. “Uma hora dessas a gente poderia estar bom já, e hoje continuo nervoso porque não sei que horas vai ser. Pode voltar de novo, repetir o infarto e o médico falou para não abusar, porque o coração já está lesionado e na próxima a lesão aumentaria mais”, lamenta.
 
 
 
 
O taxista Rogério Antonio Leme é outro exemplo. Ele tinha o cateterismo marcado para 26 deste mês, mas o exame foi cancelado. “Foi dispensado para eu ficar na casa. Agora estou aguardando a cirurgia. Talvez não tenha para fazer, mas estou aguardando. Pelo que ouvi eles não vão fazer, porque diz que a prefeitura ou estado não está passando a verba do hospital”, afirma.
 
 
Risco de morte
 
Segundo o secretário de Saúde de Itapetininga, Fábio Nascimento, a não realização desse procedimento preocupa muito e os moradores correm risco de morte. O cardiologista Roberto Simões de Almeida também explica que a falta da realização do exame aumenta o risco de complicações pós-infarto.
 
 
“O cateterismo é um exame de ouro para a gente identificar qual artéria que foi obstruída no infarto. O infarto são obstruções das artérias que irrigam o coração. A gente tem que ter a identificação de qual artéria está obstruída e, se é possível, na maioria das vezes sim, ser desobstruída através de um procedimento chamado angioplastia.”
 
 
Ainda segundo ele, desde a existência do exame a medicina científica não estuda quais os efeitos causados pela pessoa enfartar e não ser curada. “Pode haver complicações relacionadas à própria artéria que está obstruída. Ela ‘reinfartar’. É até uma coisa que não existe na literatura científica, porque após cateterismo não é estudada mais. Voltaríamos para as décadas de 20 e 40”, comenta.
 
 
 
 
 
Fonte: G1.

 


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