Enfermeiro fala sobre morte do pai por Covid à espera de leito: 'Se tivesse sido transferido antes,

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Jornal O Avaré 08/04/2021 07:10:00

O filho do idoso de 70 anos que morreu depois de esperar 14 dias por um leito de UTI para tratamento da Covid-19 em Boituva (SP) lamenta a demora na transferência do pai. O paciente estava internado no Hospital São Luiz e morreu na noite de segunda-feira (5).

Reginaldo Pacheco é enfermeiro do trabalho e acompanhou o tratamento do pai, Antônio Carlos Pacheco, desde o início da doença.

"A equipe médica iria colocar um tubo na traqueia para poder ventilar, uma traqueostomia, mas, como ele já estava pior, nem chegaram a fazer. Ele não aguentou, teve uma parada cardiorrespiratória e não conseguiu", conta.

No dia 5, mesma data da morte de Antônio, a família chegou a conseguir uma liminar na Justiça que obrigava o estado de São Paulo a ofertar uma vaga de UTI para ele em até 24 horas, sob pena de multa diária de R$ 500, mas não deu tempo.

Reginaldo explica que, como o pai ficou muito tempo aguardando a vaga, o quadro de saúde dele piorou bastante.

"A ureia e a creatinina ficaram alteradas e a pressão arterial descompensou. Chegou em um ponto que a droga não estava fazendo efeito mais. Ele já estava à base de sedativos e insuficiência renal por causa da falta de leito de UTI. Se ele estivesse em um leito de UTI, teria feito hemodiálise, estaria sob cuidados de um médico intensivista e teria tido acesso a medicações que só uma UTI tem."

O filho conta que tentou visitar o pai, já que é profissional de saúde e está vacinado, mas não conseguiu a liberação do hospital. Apesar disso, reforça que não tem queixas contra a equipe médica, nem contra a unidade.

"Foi uma coisa muito triste. Só que, como eu estava acompanhando meu pai desde o início, fiquei muito chateado por não ter participado um pouco mais. Todos os dias os médicos ligavam e passavam o diagnóstico por telefone. O Cross e o estado que são os culpados", diz.


Impasse

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que a Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross) monitorava o paciente para auxílio na regulação e que, desde o dia 22 de março, quando o caso foi cadastrado no sistema, ele apresentou uma piora progressiva.

Por isso, segundo a secretaria, Antônio Carlos foi mantido internado pelo próprio serviço de origem para estabilização, inclusive com intubação. No entanto, não evoluiu para que houvesse condições de transferência.

Já no recurso da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, o próprio estado ressaltou que havia 44 pacientes na fila do grau de prioridade laranja, que era o do paciente, o segundo mais elevado, e outros 12 no grau de urgência vermelha.

A família disse que pretende juntar a certidão de óbito ao processo e espera justiça. Antônio deixou dois filhos e a esposa.


Mortes à espera de leito

Nesta quarta-feira (6), a região de Itapetininga (SP) registrou, além do caso de Antônio Carlos, mais duas mortes de pessoas que estavam na fila por uma vaga de leito em Unidade de Terapia Intensiva.

Em Porangaba (SP), foi a primeira morte do tipo: uma mulher de 85 anos que aguardava por um leito desde o dia 30 de março. Em Fartura (SP), a vítima foi um homem de 59 anos.

Até a publicação desta reportagem, 50 pessoas morreram antes de serem transferidas para uma vaga de UTI na região. Essa situação aconteceu em 13 cidades.

Na região de Itapetininga, 65 pessoas em 11 cidades aguardam uma transferência para um leito de Unidade de Terapia Intensiva. As cidades com mais espera são Avaré, Itapetininga e Buri (SP).

As pessoas que estão na fila estão sendo atendidas, mas precisam de uma estrutura melhor, pois o estado de saúde delas é considerado grave. Em todos os hospitais da região há 109 pessoas internadas em um leito de UTI e 272 em um leito de enfermaria.

 

Fonte: G1.

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