Os vírus são tão pequenos que não conseguimos ver nos microscópios comuns. Pelos líquidos e secreções achava-se que certas doenças eram provocadas por venenos ou vírus: duas palavras com o mesmo significado.
Os vírus precisam de células para viver; em ambientes secos, a maioria sobrevivem minutos como os da Aids, herpes e gripe. Um ou outro vírus consegue sobreviver em objetos por meses e anos como o da hepatite B. A transmissão de vírus requer contato entre pessoas pelo sangue e secreções como saliva, sêmen, urina e fezes. Vírus não são transmitidos pelo ar em poeiras como os parasitas, fungos e certas bactérias. Eles podem estar no ar, mas grudados em gotículas e depois que secam, morrem.
Em sociedades isoladas como ainda ocorre com índios e africanos, os seus vírus não contaminam outras regiões. Sem contato entre habitantes de comunidades diferentes as doenças eram específicas de certas regiões. Ainda hoje, doenças de certas tribos e comunidades só são passadas ao homem industrial quando contatadas e as disseminam pelo mundo. Aids foi assim, o ebola vírus também!
Todas comunidades tem ritos e costumes: 1) comer animais como bois, porcos, macacos, tatus, lagartos, jacarés, cobras, javalis e insetos, manipulando suas carnes. 2) pintar desenhos e escrever na pele ou pendurar pedras e metais. 3) praticar sexo com bichos, 4) doar sangue para os deuses e depois esfregam-no em seus corpos. Tudo isto mistura sangue e secreções entre animais e humanos, trocam-se vírus. Alguns vírus aparecem como produto desta mistura como o da Aids, assim como pelo contato com comunidades isoladas.
Estes fenômenos são consequências da globalização tal como a Febre Hemorrágica do Ebola. Todos viajam para todos os lugares, da mesma forma, as sociedades isoladas passam a ter doenças que nem sabiam existir como tuberculose e cárie.
Células que produzem
Em um dos conceitos de vida se requer metabolismo próprio para dizer-se que tem vida: vírus não têm metabolismo próprio. Sem enzimas e proteínas para sintetizar sua própria estrutura, nem mesmo prolifera para se dividir em dois! Para produzir novos vírus, deve entrar em uma célula. Um vírus consegue apenas entrar dentro de um único tipo de célula no corpo, raramente entra em mais que um tipo. O HPV gosta das células epiteliais, o vírus do zoster gosta das neurais, o da hepatite prefere as do fígado: esta preferência chama-se tropismo viral.
Depois que entra, o vírus toma de assalto o genoma da células, incorpora o seu DNA/RNA e passa a comandar o metabolismo como um ditador: agora todos trabalham para mim! E todas as estruturas irão apenas produzir peças e proteínas para formar milhões de vírus iguais a invadir outras células! Cada célula infetada vira uma fábrica produtiva de vírus. Algumas células invadidas pelos vírus trabalham muito e depois morrem, como o HIV! Outras proliferam e a infecção viral dará origem a hiperplasias e neoplasias como o HPV.
Ebola vírus
Quando o ebola vírus entra no corpo, passa logo por macrófagos da pele e hepatócitos para se encontrar com as células das paredes dos vasos sanguíneos que não aguentam e se soltam das vizinhas por perda de coesão via substâncias induzidas pelos vírus! Inúmeros orifícios se abrem na parede dos vasos sanguíneos promovendo hemorragias severas e múltiplas, tudo ao mesmo tempo e desidratando. A morte é uma questão de dias.
Os rins formados de vasos não filtra mais o sangue; o fígado metabolizador não consegue fazer nada, as hemorragias não o deixam trabalhar pois a matéria prima chegaria via vasos. A cabeça dói muito, músculos e articulações não funcionam pelas hemorragias nas suas estruturas, a garganta seca e os olhos vermelhos denunciam a extrema debilidade que precede o fim da vida! Esta desarmonia de funcionamento dos sistemas chama-se choque séptico: tudo acabou!
Há milênios os japoneses aprenderam: cumprimentem-se com um metro de distância, abaixem seus troncos e troquem olhares respeitosos! Tocar os corpos, trocar secreções e se aproximar muito ao falar, pode custar caro ou simplesmente a vida!
Reflitamos sobre as mínimas atitudes no dia a dia e sobre os efeitos da globalização: viramos uma única tribo!
Observatório
Vírus - Identificado pela primeira vez em 1976 nas margens do Rio Ebola no antigo Zaire, hoje Congo, se tem cinco tipos do gênero “Ebolavirus” que infectam animais silvestres como gorilas e outros, mas os morcegos comedores de frutas parecem ser os transmissores naturais. O período de incubação dura 2 a 3 semanas. Os vírus Ebola parecem a tubos de espaguete ao microscópio eletrônico e seu genoma de RNA está envolto em duas capas proteicas.
Doença - Inicia subitamente com febre alta, calafrios, dor de cabeça, anorexia, náusea, dor abdominal, dor de garganta e prostração profunda. Em 7 dias tem manifestações hemorrágicas: conjuntivite, úlceras nos lábios, sangramento gengival e sangue nos vômitos e fezes. Na forma hemorrágica evolui para a morte; a letalidade da doença é de 50 a 90%.
Alberto Consolaro é professor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC.
Comunique-se: email: consolaro@uol.com.br