A chegada do período de festas e férias é sempre sinônimo de preocupação no Banco de Leite Humano de Bauru por conta da queda no número de doações. Neste ano, contudo, a unidade tem ainda mais um motivo para ficar apreensiva. O volume de doações caiu em até 30% em dois anos.
Segundo o que a reportagem apurou no local, em 2012, a média de arrecadação mensal era de 100 litros e, hoje, não supera 70 litros.
A demanda nos hospitais da cidade continua sendo atendida integralmente, porém, o fato tem feito a unidade enrijecer os critérios de distribuição ao público externo, priorizando o atendimento às crianças com patologias mais graves.
Para se ter ideia da situação atual do Banco de Leite, em dias considerados bons, a unidade chega a ter dois litros guardados na geladeira, mas, geralmente, o estoque é zero, ou seja, o leite chega e sai quase que instantaneamente. Há dois anos, mais de 20 litros eram estocados diariamente pela unidade.
Queda de doadoras
Coordenadora do local, Maria Nereida Panichi confirma a situação. Segundo ela, o número de doadoras também caiu, nesses dois últimos anos, de 45 para 30. “A entrada era superior à saída, as baixas aconteciam mais em períodos de férias. Mas, agora, tem sido constante ”, frisa.
Um dos motivos que explicaria a queda no número de doadoras e doações estaria na diminuição sensível do número de mães amamentando na cidade. “Acho que o município poderia intensificar mais os programas de apoio ao aleitamento materno”, aponta Maria Nereida.
De fato, não é preciso muito para encontrar mães que, por falta de tempo ou mesmo por desconhecimento, acabam optando pela compra do leite em pó, após o bebê atingir seis meses. O Ministério da Saúde orienta que a continuidade da amamentação deve ocorrer até a criança atingir os dois anos de idade.
Por dia, o Banco de Leite Humano de Bauru entrega dois litros do produto para três hospitais da cidade: a Maternidade Santa Isabel, a Unimed e a Maternidade Maria José (antigo Prontocor).
Para tornar-se doadora no Banco de Leite, basta ligar (14) 3226-3227. A unidade, que fica na Praça das Cerejeiras 1-40, funciona de segunda à sexta, das 7h às 19h.
Quem pode doar?
Para fazer a doação, as mulheres devem gozar de saúde plena. As portadoras de doenças infectocontagiosas não podem doar. Entretanto, nem todas as doenças infectocontagiosas impedem as mães de amamentar seus próprios filho. Para tanto, é indispensável a orientação médica.
As doadoras também não devem consumir bebida alcoólica, fumar e tomar determinados medicamentos conforme recomendação médica. Antes da possível coleta, as mulheres devem apresentar o cartão de acompanhamento pré-natal e passar por uma avaliação clínica.
De acordo com a coordenação do órgão, em muitos casos, a doação é possível durante o período médio de 1 a 3 meses após o nascimento.
Enquanto isso...
A hipótese aventada pela coordenadora do Banco de Leite de que o número de mães amamentando diminui converge, de forma indireta, com dados obtidos pela reportagem junto à Prefeitura Municipal.
Entre 2012 e 2014, o número de pessoas cadastradas no município para receber leite em pó subiu de 1.805 para 2.003.
Por conta da dificuldade, mulher já diminuiu volume de leite para a filha
Fora os hospitais, o Banco de Leite Humano de Bauru também atende um número fixo de receptores externos. Beneficiária há seis meses do programa, Lícia Fernanda Moreira, de 35 anos, conta que a queda nas doações trouxe preocupações para ela também outras muitas mães.
Vale lembrar que, para receber o leite humano do banco, os pretendentes precisam de prescrição médica.
“Minha filha tem uma doença, um erro genético no metabolismo, e não pode consumir muita proteína. O ideal é que ela tome 100 mililitros de leite materno por dia, mas, por causa da dificuldade do Banco, estou dando de 60 a 80, pra não ficar sem”, conta a mulher. “A sorte é que ela já está com seis meses e consigo revezar a alimentação com papinhas de legumes”, completa.
Beatriz é um dos bebês que conseguiu ser incluído na lista de prioridades do Banco de Leite de Bauru, que, diante da queda, tem atendido, principalmente, as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e as Unidades de Cuidado Intermediário (UCI) dos hospitais da cidade.