Ainda mais chuvas no verão e maior estiagem no inverno. As características típicas das duas estações deverão se intensificar na região Sudeste do País, ao longo deste século, segundo estudos realizados por Marta Llopart, professora doutora do departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru.
Pesquisadora sobre mudanças climáticas, ela frisa que este resultado, esperado até o final deste século, tem influência direta do aquecimento global provocado pela emissão de gases de efeito estufa.
Em âmbito nacional, os estudos apontam, ainda, a possibilidade chuvas abaixo da média no Norte do País e acima na região Sul. “Esta é a projeção com base no pior cenário, caso não haja qualquer medida mitigadora e as concentrações de CO2 continuem sendo emitidas na mesma proporção de hoje. O cenário é preocupante”, analisa Marta, que possui doutorado em Ciências Atmosféricas pela Universidade de São Paulo (2014), em parceria com o Centro Internacional de Física Teórica (ICTP), na Itália.
A professora pertence à corrente de pesquisadores que entendem como certa a existência do aquecimento global provocado pela intervenção humana – seja por meio da emissão de gases de efeito estufa ou pela alteração do solo, a partir do desmatamento de florestas e maior urbanização. Ela, contudo, salienta que não é possível precisar a extensão desta influência ou mesmo se as projeções irão se concretizar, já que, no curso da história, os países poderão adotar medidas drásticas para desacelerar este processo.
“Os maiores emissores de gases, hoje, são China e Estados Unidos. Mas temos tido avanços. As discussões políticas em torno da redução de emissões estão melhorando, embora ainda haja resistência, porque envolvem muitos interesses econômicos em cada país. As decisões precisam ser tomadas logo, porque as consequências já são muito perceptíveis”, pondera a pesquisadora.
Transformações
Marta cita que, do ano 1880 a 2000, a temperatura média da Terra já aumentou 0,8 grau, muito por conta das transformações desencadeadas pela Revolução Industrial, iniciada no século 18. De lá para cá, as emissões de gases a partir da queima de combustíveis fósseis, geradas por indústrias e veículos automotores, cresceu em progressão geométrica.
Diante desta nova realidade global, segundo projeções de cenários climáticos baseados no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a expectativa é de que, até 2100, a temperatura média do Planeta aumente entre 3 e 5 graus. O índice, segundo Marta, é corroborado por diversos estudos ao redor do mundo, inclusive com a participação de pesquisadores brasileiros.
“São inferências com base no pior cenário. Se elas se confirmarem, haverá um impacto geral na sociedade, com desconforto térmico, maior incidência de ondas de calor, impacto em florestas e risco à sobrevivência de algumas espécies”, enumera, citando, ainda, a iminência de episódios extremos de precipitação com potencial destrutivo em todo o globo - causados por uma atmosfera mais aquecida e úmida.
Variabilidade
Apesar de considerar inquestionável a existência do aquecimento global por razões antropogênicas, Marta Llopart salienta que o clima possui uma variabilidade natural, com ciclos que levam à maior ou menor radiação, de acordo com a proximidade do Sol em relação à Terra. “Neste momento, por exemplo, a radiação está menor. Mas a temperatura média do planeta continua numa crescente devido à emissão de gases efeito estufa”, salienta.
No ano passado, diversos veículos de comunicação replicaram informações sobre a possibilidade de a Terra entrar em uma pequena Era Glacial a partir de 2030, com moderado resfriamento da Terra. Mas esta é uma hipótese que a professora da Unesp rejeita com veemência. “Isto não se confirma. Uma nova Era Glacial poderá ocorrer apenas daqui a 10 mil anos, mas, por conta do aquecimento global, as pesquisas estão apontando que iremos atrasar este início”, considera. A última “mini Era Glacial”, segundo os estudos, foi registrada entre 1645 e 1715.
El Niño?
Estudos em várias partes do mundo apontaram que os registros recordes de calor em 2015, assim como em fevereiro de 2016, estão intimamente relacionados com fenômeno El Niño, que se manifestou de maneira intensa entre o ano passado e este ano. Embora Bauru tenha acompanhado esta tendência, Marta Llopart salienta que não é possível afirmar que a região Sudeste brasileira sofra, de fato, influência deste fenômeno. “Mas, ao mesmo tempo, não dá para dizer que houve apenas uma coincidência. De certa forma, tudo que ocorre na Terra está interligado”, opina.
Dia Meteorológico
No dia 23 de março, quando foi comemorado o Dia Meteorológico Mundial, o Centro de Meteorologia de Bauru (IPMet) realizou mesa-redonda com a participação de docentes do curso de Meteorologia da Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru e um meteorologista do órgão. A data marca a entrada em vigor, em 1950, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência internacional da Organização das Nações Unidas (ONU), sediada em Genebra, na Suíça.
Anualmente, a OMM propõe um tema para reflexão por parte da sociedade e comunidade meteorológica. Em 2016, o tema escolhido foi “Mais quente, mais seco e mais úmido - enfrentando o futuro”.
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