Após 'sonho revelador', ex-usuária de drogas monta clínica de recuperação


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Jornal O Avaré 07/05/2015 09:18:28

Viciada aos 12, ela abandonou vicio, casou e vendeu moradia para projeto.
Depois de 10 anos, ação já recuperou cerca de 480 pessoas em Piraju (SP).

 

 

Depois de conseguir abandonar as drogas, vício que tinha desde os 12 anos, a enfermeira Renata Valessi, de Piraju (SP), teve um sonho revelador que mudou sua vida. Recém-casada na época e com 22 anos, ela sonhou que deveria vender tudo o que tinha para montar uma clínica de recuperação. Dias depois, vendeu uma casa de R$ 110 mil, um carro de R$ 25 mil e comprou uma chácara na zona rural, no Bairro Monte Alegre. “Deus disse que precisava criar uma família para as pessoas que não tinham. Que eu oferecesse aos outros tudo o que tive para poder sair dessa vida”, conta.

Hoje em dia, prestes a completar dez anos da criação da comunidade Levanta-te, Renata, com 32 anos, não mede a felicidade ao contar quantas pessoas pôde ajudar. Diz que aproximadamente 600 pessoas já passaram no local, sendo que 80% delas, ou 480, se recuperaram. “Foi um chamado. Quantas vezes pensamos em fechar a clínica devido às dificuldades. Foi difícil, mas Ele nos conduziu, porque o ser humano é fraco”, diz.

A enfermeira ressalta que o principal vício dos atuais 20 internos é o crack. “No meu caso comecei a usar maconha e depois cocaína muito nova por causa de más companhias, e também como forma de afrontar meus pais. Então como ex-usuária sei o que eles sofrem para abandonar o vício, mas sei também que não é impossível. Quem não se recupera geralmente é porque está acomodado, quem usa a droga como saída para qualquer problema. Para sair é preciso decidir pelo certo a cada dia, a cada dia é uma nova decisão”, afirma.

Renata conheceu o marido, Newton Borges, de 36 anos, logo após parar com o vício durante as reuniões do grupo de jovens na igreja. Assim como a esposa, Borges precisou sair do serviço para se dedicar a clínica. Atualmente é administrador do espaço onde a família já até morou com os filhos Renato e Daniel, de 8 anos. “Ela me contou do sonho e eu entrei nessa. Estamos juntos seja como o for, e ela precisava de meu apoio para realizar o sonho. Para mim, dez anos depois de montarmos o espaço, tudo o que fizemos foi só uma gota no oceano. Mas se não tivéssemos feito, seria uma gota a menos”, reflete.

Antes apenas com o trabalho do casal, a comunidade conta hoje com dois monitores, uma psicóloga e dois voluntários. Dos atuais 20 internos, 15 têm o tratamento pago pela prefeitura, dois são tratados gratuitamente e três têm a internação paga mensalmente pelas famílias. Os pacientes, viciados em crack ou álcool, precisam morar no local. “Muitos dos que já se recuperaram ajudam com a comunidade. Recebemos também doações de comida e roupas de moradores da cidade. O trabalho feito aqui ganhou credibilidade em comparação quando começamos, as pessoas agora entendem que os internados não são ‘vagabundos’, e sim pessoas que precisam de ajuda”, finaliza.


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