Depois de conseguir abandonar as drogas, vício que tinha desde os 12 anos, a enfermeira Renata Valessi, de Piraju (SP), teve um sonho revelador que mudou sua vida. Recém-casada na época e com 22 anos, ela sonhou que deveria vender tudo o que tinha para montar uma clínica de recuperação. Dias depois, vendeu uma casa de R$ 110 mil, um carro de R$ 25 mil e comprou uma chácara na zona rural, no Bairro Monte Alegre. “Deus disse que precisava criar uma família para as pessoas que não tinham. Que eu oferecesse aos outros tudo o que tive para poder sair dessa vida”, conta.
Hoje em dia, prestes a completar dez anos da criação da comunidade Levanta-te, Renata, com 32 anos, não mede a felicidade ao contar quantas pessoas pôde ajudar. Diz que aproximadamente 600 pessoas já passaram no local, sendo que 80% delas, ou 480, se recuperaram. “Foi um chamado. Quantas vezes pensamos em fechar a clínica devido às dificuldades. Foi difícil, mas Ele nos conduziu, porque o ser humano é fraco”, diz.
A enfermeira ressalta que o principal vício dos atuais 20 internos é o crack. “No meu caso comecei a usar maconha e depois cocaína muito nova por causa de más companhias, e também como forma de afrontar meus pais. Então como ex-usuária sei o que eles sofrem para abandonar o vício, mas sei também que não é impossível. Quem não se recupera geralmente é porque está acomodado, quem usa a droga como saída para qualquer problema. Para sair é preciso decidir pelo certo a cada dia, a cada dia é uma nova decisão”, afirma.
Renata conheceu o marido, Newton Borges, de 36 anos, logo após parar com o vício durante as reuniões do grupo de jovens na igreja. Assim como a esposa, Borges precisou sair do serviço para se dedicar a clínica. Atualmente é administrador do espaço onde a família já até morou com os filhos Renato e Daniel, de 8 anos. “Ela me contou do sonho e eu entrei nessa. Estamos juntos seja como o for, e ela precisava de meu apoio para realizar o sonho. Para mim, dez anos depois de montarmos o espaço, tudo o que fizemos foi só uma gota no oceano. Mas se não tivéssemos feito, seria uma gota a menos”, reflete.
Antes apenas com o trabalho do casal, a comunidade conta hoje com dois monitores, uma psicóloga e dois voluntários. Dos atuais 20 internos, 15 têm o tratamento pago pela prefeitura, dois são tratados gratuitamente e três têm a internação paga mensalmente pelas famílias. Os pacientes, viciados em crack ou álcool, precisam morar no local. “Muitos dos que já se recuperaram ajudam com a comunidade. Recebemos também doações de comida e roupas de moradores da cidade. O trabalho feito aqui ganhou credibilidade em comparação quando começamos, as pessoas agora entendem que os internados não são ‘vagabundos’, e sim pessoas que precisam de ajuda”, finaliza.