O pai de João Alberto Silveira de Freitas, espancado e morto por dois seguranças em um supermercado de Porto Alegre, se sente de ‘alma lavada’ em relação a repercussão da morte do filho, na última quinta-feira, dia 19 de novembro.
“Eu posso te dizer que me sinto de alma lavada, porque não imaginei que fosse ter uma repercussão tão grande assim. Mas se é em favor da sociedade é bem-vindo”, disse João Batista Rodrigues Freitas à reportagem da RBS TV, durante o velório do filho, na manhã deste sábado, dia 21, na Zona Norte da Capital gaúcha.
Para ele, o movimento negro contra o racismo é válido. “Eu gostaria que isso não tivesse acontecido com o meu filho, mas quanto ao movimento negro, acho que todo movimento assim é valido. Porque esse tipo de sentimento assim tem que ser banido da sociedade. E só com muita educação a gente vai superar esse momento. Então um momento como esse é sublime pra isso.”
REPERCUSSÃO – A morte de João Alberto repercutiu entre autoridades e virou um dos assuntos mais comentados da rede social Twitter na sexta-feira (20).
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, disse que houve “excesso de violência”. Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que “o bárbaro homicídio praticado no Carrefour escancara a obrigação de sermos implacáveis no combate ao racismo estrutural”. Sem citar a raça da vítima, Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, disse que “a vida de mais um brasileiro foi brutalmente ceifada no estacionamento de um supermercado.”
Jornais estrangeiros, como o Washington Post, dos Estados Unidos, e o El País, da Espanha, também falaram sobre o assunto.
O jornal americano destacou a brutalidade dos seguranças ao dizer que Freitas foi “selvagemente espancado”. A publicação também mostrou os protestos ocorridos por todo o país e relembrou os atos que tomaram os Estados Unidos após a morte de George Floyd, em maio.
Na reportagem do jornal espanhol, Porto Alegre é citada como “uma cidade do Brasil mais branco”. O veículo menciona que o assassinato ocorreu em meio à campanha das eleições municipais. O ‘El País’ também relembrou a fala do vice-presidente Hamilton Mourão de que “não existe racismo no Brasil”.
O CRIME – João Alberto foi morto por dois seguranças do supermercado Carrefour na noite de quinta-feira (19). Segundo a polícia, a vítima teria feito um gesto para uma funcionária do mercado, o que a fez chamar a segurança do local.
Beto, como era conhecido, foi acompanhado pelos dois homens ao estacionamento da unidade. De acordo com a polícia, ele teria dado um soco em um dos seguranças, quando começaram as agressões. A vítima foi agredida por cerca de 5 minutos pelos dois homens.
O Samu foi acionado, mas ele morreu no local. Os dois homens foram presos em flagrante e devem responder por homicídio triplamente qualificado.
O corpo de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi sepultado na manhã deste sábado (21) no Cemitério São João, na Zona Norte de Porto Alegre.
Muito abalada, a mulher de João Alberto, Milena Borges Alves pediu justiça. “Eu não tenho nada pra falar. Só quero justiça, quero que paguem”.
MANIFESTAÇÕES – Alvo de manifestantes na noite de sexta-feira (20), o Carrefour do Passo D’Areia tem marcas de destruição horas após o protesto que terminou em confronto com a polícia.
Logo ao amanhecer deste sábado, pedaços de concreto estavam espalhados pelo pátio, totens com marcas de incêndio e pichações contra os seguranças que provocaram a morte de João Alberto Freitas.
Cercas e portões foram arrancados. Próximo às escadas rolantes, vidraças foram quebradas, e lojas de empresas locatárias dos espaços também foram alvo dos manifestantes.
A calçada em frente à Avenida que dá acesso ao mercado também tem marcas de protesto. Frases como “racistas, assassinos e justiça por Beto” são expostas em cartazes de papelão ou grafitadas no piso e nas paredes do estabelecimento.
Fonte: G1.