'Eu me fingi de morto', diz jovem que sobreviveu a ataque de PMs no Rio


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Jornal O Avaré 21/06/2014 06:19:34

 

 

Quando foi apreendido no Complexo da Maré, na zona norte, o adolescente M., 15, foi levado para um matagal no morro do Sumaré, próximo à casa do cardeal d. Orani Tempesta, arcebispo do Rio.

 

 

Ali, junto à rua Uruguaiana, no Sumaré (centro), ele e Mateus Alves dos Santos, 14, foram baleados quatro vezes por policiais militares na manhã do último dia 11.

 

 

M. foi o primeiro alvejado, levando um tiro de fuzil pelas costas e outro, de pistola, na perna direita. "Ele [PM] me chutou, mas não me mexi, fingi de morto", relatou o jovem à Folha nesta sexta (20).

 

 

"Depois, puxaram o outro garoto. Quando me viu, começou a gritar, mas tomou dois tiros e caiu em cima de mim, morto", disse. Eles se conheciam apenas de vista.

 

 

Assim que os policiais se afastaram, M. saiu de baixo do corpo de Mateus, levantou-se e amarrou um casaco na perna, atravessada pela bala. O tiro de fuzil também cruzou seu corpo, deixando um furo pelas costas.

 

 

O adolescente diz que procurou auxílio em três estabelecimentos, mas não o ajudaram. "Disseram que não poderia ficar ali, porque a polícia voltaria." Os comerciantes também deram a entender que a região é ponto de desova (ocultação de cadáveres).

 

 

Em busca de socorro, M. caminhou até o morro do Turano, na zona norte. Um menino o levou a uma igreja, onde limparam seus ferimentos e ligaram para sua família.
Seu pai o buscou no pé do morro e o levou ao hospital municipal Souza Aguiar.

 

 

Ao voltar para casa, viu no Facebook que apontavam Mateus como desaparecido.

Após três dias, encontrou-se com Aline dos Santos, tia do garoto, e contou sobre sua morte. Ela, que já perdera o marido e um tio assassinados, procurou a Delegacia de Homicídios na segunda (16).

 

 

Encontraram o corpo de Mateus no Sumaré no mesmo dia. O pai do garoto o identificou no local. "Mesmo que ele tivesse feito algo errado, deveria ter sido levado à DPCA [Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente]", disse o pai, Tyago Virgínio dos Santos, 33, auxiliar de obras.

 

 

Suspeitos do crime, os cabos Fábio Magalhães Ferreira, 35, e Vinícius Lima Vieira, 32, foram presos na quinta (19). Ficarão ao menos 30 dias em uma Unidade Prisional da PM, à disposição da Justiça. A corporação não informou se eles já têm advogado.

 

 

M., que parou de estudar ao completar a sexta série no ano passado, disse à Folha que estava "dando um rolê", quando foi apreendido. Contou que ele e Mateus estavam tranquilos até chegar ao Sumaré. "Ali vimos que iam fazer maldade", disse. 

 


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