'Casal Mega Filmes' vende salgados após prisão: 'Não temos vergonha'


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Jornal O Avaré 21/12/2015 08:32:03

Com os carros apreendidos, eles usam veículo emprestado para entregas.
Suspeitos de Cerquilho (SP) respondem em liberdade pelo site de pirataria.

 

O casal dono do site Mega Filmes HD, que fornecia filmes e séries de forma ilegal pela internet, tenta recomeçar a vida com a entrega de salgados. “Não temos vergonha. Antes do ‘boom’ do site éramos pobres, não tem problema nenhum”, afirmam Thalita Cardoso e Marcos Cardoso, que vivem em Cerquilho (SP), em entrevista ao G1.

Os suspeitos de pirataria e associação criminosa estão soltos há pouco mais de 20 dias e respondem em liberdade desde 28 de novembro. Segundo a Polícia Federal em Sorocaba (SP), eles recebiam R$ 70 mil com os 60 milhões de visualizações mensais do site. A PF foi procurada pelo G1 na última sexta-feira (18), mas o delegado do caso, Valdemar Latance Neto, não foi localizado. Ele disse, no início do mês, que não comenta investigações em andamento.

Vende pelo Facebook
Além de cozinhar na companhia da mãe, de uma tia e prima, Thalita atende pedidos em casa e por rede social. Segundo a dupla, Marcos faz as entregas com um Volkswagen Voyage de 1987 emprestado pelo tio de Thalita, já que os quatro veículos do casal, entre eles um BMW e o ‘Jettão’ tunado, como eles chamavam o automóvel, foram apreendidos.

“O importante é que ele funciona. Quando chegamos da prisão ouvimos coisas horrorosas, tem gente que nunca mais falou conosco. Mas a maioria, até pessoas desconhecidas, está do nosso lado. Alguns amigos e nossos parentes nos ajudaram muito com uma verba para começar a trabalhar e ferramentas para fazer os salgados, já que não sobrou nada de dinheiro”, conta Thalita.

Ainda segundo o casal, abrir o próprio negócio de alimentação era um dos planos antes da prisão. “Já queríamos abrir um restaurante antes do que aconteceu. Então, estamos correndo para fazer dar certo. Além de fazer e entregar salgados, à noite trabalho como gerente em um bar da cidade”, afirma Thalita.

Ela acredita que um dos fatos para ter sido contratada como gerente do bar é a popularidade que ganhou na cidade após ter sido presa pelo site. “Teve até cliente que tirou foto (risos). Como a cidade é pequena, muita gente me reconhece na rua. Até por isso as vendas dos salgados vão bem. Uma dupla sertaneja até quer me contratar para fazer a divulgação do trabalho deles aqui na região”, aponta. Cerquilho tem 44,3 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

‘Durmo 4h por dia’
Ter dois trabalhos ajuda Thalita a esquecer o que aconteceu. Segundo ela, desde que saiu da prisão tem descansado e comido pouco. “Durmo umas quatro horas por dia, mas estou melhorando. Trabalhar desde a manhã com os salgados e no bar à noite ajuda porque, se parar para pensar, é difícil. Aqui em casa a prisão é assunto encerrado”, revela.

Além da incerteza de voltar ou não à prisão, o processo criminal “suspendeu” a vida do casal. “Estávamos com o casamento marcado para duas semanas depois quando fomos presos. Agora nem quero ir a festas de casamentos. Tínhamos também planos de ter filhos, mas agora como posso ficar grávida se posso ficar presa de novo? Na prisão, a gente se sente como um rato, comendo e dormindo quando os outros querem”, reflete.

Para Marcos, a experiência tem sido menos danosa, afirma. O ex-dono de um dos maiores sites de pirataria do Brasil diz estar arrependido. “Nunca tinha enfrentado algo como ficar dez dias preso, e olha que a prisão onde fiquei não era tão ruim pelo que os outros detentos falaram. O interessante é que todos são tratados iguais, ricos e pobres. Uns 80% dos presos queriam voltar a fazer crimes depois de sair. Mas eu estou fora”, conclui.

Entenda o caso
O site, controlado pela dupla e os outros suspeitos, oferecia um acervo com cerca de 150 mil filmes, documentários, séries de TV e shows. No portal, conforme a PF, os envolvidos faziam transmissão de programas antes mesmo das estreias oficiais. Milhares de internautas se manifestaram em redes sociais contra o fechamento do site de pirataria Mega Filmes HD, após operação da Polícia Federal.

Um levantamento da polícia apontou que a página chegou a receber 60 milhões de visitas por mês no primeiro semestre de 2015. Deste número, 85% eram de brasileiros e 15% de países como Portugal e Japão. Em apenas uma rede social, o portal tinha mais de 4,5 milhões de seguidores. A renda obtida pelos suspeitos, estimada em R$ 70 mil, vinha por cobrança de publicidade exibida no site.

O advogado disse que o casal admitiu que fazia o mesmo negócio no Japão, onde morou por nove anos, e que não sabia que o caso era tão grave. A dupla responde pelos crimes de violação de direito autoral (pirataria) e associação criminosa.


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